Guerra entre facções deixou 56 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim
MANAUS — Os 56 detentos mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, foram executados logo nas primeiras horas do confronto entre facções na tarde de domingo. É o que avalia o juiz titular da Vara de Execução Penal do Tribunal Justiça do Amazonas (TJ-AM), Luís Carlos Valois, que acompanhou e comandou as negociações juntos aos presidiários ainda na noite de domingo. Valois que chegou ao local da rebelião por volta das 22 horas – horário Manaus – disse ter entrado em estado de choque com as imagens dos corpos esquartejados, empilhados, mutilados e decapitados.
— Pilhas de corpos espalhadas pelos corredores, membros esquartejados
nos cantos e muitas cabeças decapitadas no local. O chão estava lavado
de sangue. Nunca vi nada igual na minha vida. aqueles corpos e o sangue
ainda estão nítidos na minha cabeça. Ainda estou em choque — relatou.
As imagens divulgadas extraoficialmente e que circulam pelas redes
sociais mostram cenas de terror dentro do presídio. Pilhas de corpos em
carrinhos e no pátio são as cenas mais comuns.
Valoais caracteriza as 60 mortes como uma carnificina. Para ele,
durante as negociações ficou claro que não se tratava de uma rebelião
por melhorias no sistema prisional, mas de uma disputa entre grupos por
poder.
— Quando cheguei lá os assassinatos já haviam acontecido. Já
participei de várias rebeliões, negociando diretamente com os presos e
sempre tem reivindicações para melhoria de alimentação, superlotação e
celeridade no processo de julgamento. Mas dessa vez as reivindicações
não tinham força. Parecia que eles estavam apenas usando essas
argumentações para ganhar tempo. A matança já havia acontecido. Ficou
clara a disputa de poder entre os grupos. Matar 60 pessoas não justifica
qualquer reivindicação.
Inicialmente, o governo do Amazonas havia informado que eram 60 mortos, mas depois corrigiu o número.
Para o juiz, o número de mortes podia ter sido maior. Na avaliação
dele, a entrada do Grupo de Choque podia ter levado vidas de detentos do
semiaberto que não participaram do motim.
— Os presos do regime fechado invadiram o semiaberto e tomaram conta
de todo o complexo. O número de mortos podia ter sido maior. Felizmente,
houve uma negociação eficaz e conseguimos evitar a morte de detentos do
regime semiaberto que não participavam da rebelião. Uma de nossas
primeiras exigências foi que eles se retirassem desse complexo e
retornassem para o regime fechado — contou.
O motim, segundo Valois, terminou por volta das 23 horas, mas os
detentos acordaram em liberar a entrada da polícia só a partir das 7h
desta segunda-feira.
Fonte: Jornal O Globo
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