Sob o risco de perder o poder no
Maranhão pela primeira vez em quase meio século, a família do
ex-presidente lança campanha predatória contra o principal candidato da
oposição (Matéria exclusiva da revista, Isto È)
CAMINHOS INCERTOS
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e
seu pai: denúncias para atingir os adversários
Claudio Dantas Sequeira
Em quase meio século de domínio no Maranhão, o clã Sarney nunca
correu tanto risco de perder o poder. Os sinais de esgotamento começaram
a surgir nos protestos que tomaram as ruas de São Luís em junho e
ganharam mais substância nas últimas pesquisas de intenção de voto para
2014. Em todas elas, os candidatos apoiados por José Sarney, inclusive
sua filha Roseana, atual governadora, patinam em índices de popularidade
incomuns para quem ditou os rumos políticos do Estado por tanto tempo. A
maior ameaça à hegemonia dos Sarney chama-se Flávio Dino, que lidera as
pesquisas para o governo do Estado com quase 60% de apoio, índice que o
credencia a liquidar a eleição no primeiro turno. Exatamente por isso, o
ex-deputado federal do PCdoB, ex-juiz e atual presidente da Embratur
tornou-se alvo de uma campanha implacável de difamação que expõe o
desespero de quem não está acostumado a ser oposição.
Um dos principais escudeiros da família Sarney na batalha contra Dino é o
deputado federal Chiquinho Escórcio (PMDB/MA), que tem feito uma
devassa nas contas da Embratur em busca de problemas que comprometam o
presidente do órgão. Escórcio acaba de protocolar requerimento ao
Ministério do Turismo questionando a Embratur sobre a decisão de abrir
13 escritórios de representação no Exterior. Ele também denunciou Dino à
Comissão de Ética Pública da Presidência, acusando-o de usar o cargo
para fazer campanha antecipada no Estado. “Dino trabalha em Brasília de
segunda a quarta e viaja na quinta para o Maranhão. Quem você acha que
está pagando isso?”, questiona Escórcio. Com a experiência de quem já
travou nas urnas uma disputa com os Sarney em 2010, Dino diz que não
cometeria tal deslize.
“Todas as viagens não oficiais são pagas pelo
PCdoB ou por mim”, garante. O presidente da Embratur diz que fica no
órgão até o meio-dia de sexta-feira e só faz campanha depois das 18
horas.
ALVO
Presidente da Embratur e rival dos Sarney,
Flávio Dino lidera as pesquisas para governador
As denúncias feitas por Escórcio ganharam destaque nos veículos que
integram o Sistema Mirante de Comunicação, da família Sarney. No domingo
passado, o jornal “O Estado do Maranhão” publicou reportagem sobre
obras-fantasmas que teriam recebido emendas parlamentares do próprio
Dino, quando era deputado federal. Foram R$ 5,6 milhões para a
construção de ginásios e campos de futebol na cidade de Caxias. As
obras, porém, existem e já foram inauguradas. Há poucos dias, Dino teve
que se defender de outra denúncia, a de que recebia salário da
Universidade Federal do Maranhão mesmo sem dar aula. Uma nota oficial da
própria universidade desmentiu a acusação. Os sucessivos ataques do
clã Sarney levaram Dino a revidar. Em denúncias ao Ministério Público,
acusa o secretário de Infraestrutura do Maranhão e pré-candidato ao
governo, Luis Fernando Silva, de usar helicóptero oficial para reuniões
partidárias. O PCdoB de Dino também questiona o que chama de
“manipulação do orçamento” por parte da governadora Roseana Sarney. “A
análise da lei orçamentária mostra que Roseana cortou verbas de
saneamento, educação e segurança pública, enquanto triplicou o orçamento
de Infraestrutura, pasta do pré-candidato deles”, afirma o deputado
estadual Rubens Júnior (PCdoB).
O ex-presidente também entrou na briga. Nos artigos que publica aos
domingos em seu jornal, Sarney encarna o papel de vítima e se diz
perseguido por uma oposição movida por “ódio, inveja, ressentimento e
ambição desmedida”. O grau de irritação do velho senador aumentou depois
que o Palácio do Planalto se mobilizou em prol de Dino. Sarney ameaçou
sabotar o palanque de Dilma em vários Estados e agora negocia uma
solução para o imbróglio. Na quinta-feira, arquitetou-se em Brasília um
plano para um acordo capaz de agradar às duas partes. O vice-governador
de Estado, Washington Luiz de Oliveira, do PT, trocaria o governo por
um assento vitalício no Tribunal de Contas. Assim, Roseana poderia se
licenciar para concorrer ao Senado sem o risco de um petista assumir o
governo e virar a máquina estadual contra o PMDB. O Palácio do Planalto
apoiaria Roseana e tentaria interditar o palanque estadual para Eduardo
Campos. O problema é que o PSB de Campos é aliado tradicional do PCdoB e
Dino já se comprometeu com o socialista. “Podemos abrir o palanque para
todos os aliados que tiverem candidatos à Presidência, inclusive o PT”,
diz Dino. A batalha, como se vê, exige uma complexa engenharia
política. A única certeza é que, pela primeira vez em muitos anos, os
Sarney têm motivos reais para entrar em desespero.
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