Ajustes e desajustes no Ensino Médio
Além de um Ensino Fundamental fraco, temos um Ensino Médio com disciplinas demais. Com isso, os alunos não se aprofundam no que sabem bem e no que gostam.
EDUCAÇÃO
O Brasil tem dois grandes gargalos na educação. O primeiro é
na entrada – os alunos que não saem bem alfabetizados ao final do
primeiro ano do Ensino Fundamental dificilmente apresentam uma
trajetória escolar adequada. Este problema ainda está fora da agenda –
as autoridades brasileiras propõem que o aluno seja alfabetizado até o
final do terceiro ano. Os pais que se cuidem!
O segundo é no Ensino Médio. Aí o gargalho é gigantesco. Até
o presente momento, o Ensino Médio brasileiro é voltado para o
vestibular. Para a maioria dos alunos, vestibular significa ENEM, e,
para outros, o vestibular específico de algumas universidades. Além
disso, em ambos os casos, os alunos precisam lidar com uma quantidade
enorme de disciplinas.
A propalada reforma do Ensino Médio dificilmente irá mudar
essa situação. A intenção era boa – promover a diversificação da etapa
com uma vertente acadêmica e outra profissionalizante. No caso da
vertente acadêmica, foram propostos quatro percursos: linguagens,
matemática, ciências da natureza (Biologia, Geografia, Químíca) ou ciências humanas. Haveria escolas
especializadas, cursos especializados dentro de escolas e,
consequentemente, os alunos poderiam optar entre escolas, cursos e
disciplinas – com maior foco, rigor e profundidade. Mas a lei acabou
redigida de forma confusa, e ainda predomina no governo a ideia de que
todos alunos precisam fazer uma enorme quantidade de disciplinas.
O mundo das escolas privadas é mais ágil e mais pragmático
que o das escolas públicas. E basicamente é focado no ensino acadêmico.
Com isso, alguns experimentos já estão em curso. Mas, como essas escolas
são avaliadas principalmente pelo sucesso no ENEM ou nos outros
vestibulares, qualquer iniciativa que elas tomarem estará limitada ao
que ficar decidido sobre esses exames. E até agora nada mudou. Portanto,
escolas, pais e jovens precisam ter cautela.
Os resultados do Brasil no Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Pisa) mostram que nosso Ensino Médio é muito
fraco em relação ao do resto do mundo. Uma das causas disso é que, além
de termos um Ensino Fundamental fraco, nosso Ensino Médio tem excesso de
disciplinas e, por isso, pouca profundidade. Os alunos não se
aprofundam no que sabem bem e no que gostam.
Há vários programas acadêmicos de alta qualidade de Ensino
Médio pelo mundo afora. Dentre eles, o mais exitoso é o chamado I.B. –
International Baccaléaureat. É um programa para quem gosta de estudar, e
a maioria dos alunos desses programas ingressa nas universidades mais
competitivas do mundo. Esse programa exige proficiência em inglês, e o
aluno só faz 7 disciplinas – 4 com maior profundidade e 3 com menos.
Infelizmente, a legislação brasileira impede que uma escola ofereça esse
tipo de programa – por exemplo, para fazer o IB no Brasil e ter um
diploma de Ensino Médio, os alunos precisam cumprir todos os outros
requisitos da legislação. É difícil inovar em um país que dificulta a
inovação.
Fonte: Veja Online
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