MARANHÃO
Há poucos
dias tomamos conhecimento da decisão do Procurador Geral da República, Roberto
Gurgel, a respeito do processo que pede
a cassação do mandato da governadora Roseana Sarney, por ação do ex-governador
José Reinaldo Tavares, a qual alega abuso de poder político e econômico nas
últimas eleições de 2010. Agora, o processo (com semelhantes argumentações a
outro recente!) que estava engavetado na Procuradoria Geral da República, volta
às mesas (ou gavetas) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O fato me
fez recordar a histórica eleição de 2006: Jackson Lago, em sua terceira
tentativa de chegar ao Palácio dos Leões,
vencera. Sem mandato, com a sua conhecida persistência e desprendimento,
driblando muitos interesses contrários, sejam do lado de lá ou do lado de cá, o
das oposições, obteve 34,36% dos votos no primeiro turno. Junto com os outros
dois candidatos oposicionistas, Edson Vidigal (PSB) e Aderson Lago (PSDB), além
do apoio político do então governador dissidente do sarneyísmo - José Reinaldo
Tavares, a oligarquia perdera a sua
primeira eleição desde 1965, por uma diferença de apenas 1,8% dos votos, no
segundo turno.
José Sarney
subiu ao poder e tornou-se um dos líderes civis mais confiáveis do regime. Emplacou
os seus escolhidos nas eleições indiretas para o governo maranhense e, nas eleições
diretas, conseguiu eleger todos os seus candidatos. Ganhou força e fôlego, ao
se tornar presidente, com o inesperado falecimento do fiel ministro de Getúlio
Vargas, o mineiro Tancredo Neves. Aconteceram eleições questionáveis, como a de
1994 - a primeira eleição da então deputada federal Roseana Sarney, que ficou
marcada por suspeita de fraude eleitoral, assim como a de 2002, quando se evitou
um segundo turno entre Jackson Lago e José Reinaldo Tavares, por meio de
manobras jurídicas no TRE e no TSE, sobre validação ou não da candidatura do
cunhado (Ricardo Murad) da ex-governadora e candidata ao senado Roseana Sarney
Murad.
Igualmente,
recordo-me das circunstâncias de seu governo perseguido mesmo antes de assumir
o seu mandato que duraria 2 anos, 3 meses e 17 dias. A Oligarquia (eles
detestam ser chamados assim!) jamais aceitou aquele resultado e decidiu fazer
uso do que lhe restara: o golpe judiciário.
Durante esse
período, o governador Jackson Lago enfrentou a questão da Operação Navalha, a
recidiva de seu câncer, a quase-morte de seu genro considerado filho, os
desafios de governo e todo o desgaste que se depreendeu daquele processo de
cassação que, a rigor, lhe cassou duplamente pois, além de lhe tirar o mandato,
nas eleições de 2010, serviu para que os seus adversários Roseana Sarney e
Flávio Dino/José Reinaldo Tavares fizessem uso da sua condição de suposto
“ficha-suja”.
Lembro-me,
por último, que ao ser solicitado para ser o autor desta ação, negou
veementemente. Na sua consciência, ele que fora vítima da “judicialização da política”
ou, pior, do “golpe judiciário” ou do mal uso da Justiça para resolver as
questões eleitorais (em 2002, a sua coligação fora autora de um processo somente
para realização do segundo turno!), não via nenhuma possibilidade de partir
para caminhos nunca dantes pisados por ele (ou seja, o de cassar o mandato de
quem quer que fosse!).
Logo ele que
perdeu mais que ganhou eleições (foram 8 derrotas: 1976 - prefeito de Bacabal;
1978 - deputado federal; 1982 - deputado federal; 1985 - prefeito de São Luis;
1986 - deputado federal; 1994 - governador; 2002 -governador e 2010 –
governador; e 5 vitórias: 1974 – deputado estadual; 1988 – prefeito de São
Luis; 1996 – prefeito de São Luis; 2000 – prefeito de São Luis e 2006 –
governador do Maranhão)!
Os valores democráticos
estavam presentes na sua ação e pensamento políticos. Via as eleições como
parte do processo social, das lutas da sociedade, uma etapa do agir cívico, o
que radicalmente o diferencia dos atuais líderes da “nova oposição” e dos
adversários longevos do poder. Basta refletir sobre suas trajetórias e
atitudes...
Quiçá isto
possa inspirar verdadeiros democratas a se lançarem nesse difícil e triste
cenário maranhense disputado por duas forças muito parecidas entre si, tal como
se fossem duas caras da mesma moeda. Que terão de diferente a nos oferecer?
Igor Lago
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