Esportes
A 13ª rodada do Campeonato Brasileiro sequer acabou, e milhares de
torcedores Nordeste afora já viveram momentos de intensa euforia e
profunda tristeza. Isso porque uma série de sites e bancas ilegais de
apostas esportivas — que viraram febre em vários estados da região desde
o ano passado — simplesmente "quebraram" após os resultados da Série A
de quarta-feira (12).
Logo que os jogos acabaram, começaram a circular nas redes sociais
fotos de cartões vitoriosos de apostas acumuladas — aquelas em que o
apostador marca vários possíveis resultados e só ganha o dinheiro se
todos eles acontecerem como previsto — nos jogos Ponte Preta x Bahia,
Atlético-MG x Santos, Fluminense x Botafogo, Palmeiras x Corinthians,
Atlético-PR x Cruzeiro e Vitória x Vasco da Gama. A improvável
combinação das cotações de todos os visitantes pagava entre mil e 2.200
vezes o valor apostado, mas foi o que aconteceu: Bahia, Santos,
Botafogo, Corinthians, Cruzeiro e Vasco venceram.
Tão rapidamente quanto as manifestações de alegria dos apostadores,
porém, áudios de supostos cambistas e operadores das bancas se
disseminaram pelo WhatsApp. O tom era quase fúnebre. "Pessoal, não
adianta me ligar, me pressionar, mandar mensagem. Já entrei em contato
com o dono da banca e ele falou que é impossível pagar. O prejuízo é
milionário. Não vai ter condição de pagar. E vocês sabem que é jogo
ilegal. Não adianta ir para a Justiça, não adianta fazer nada. Fechou a
tampa do caixão", diz um dos operadores.
"Vocês podem ter certeza: nenhuma banca vai pagar isso. A gente vai
ver se faz um acordo para não deixar todo mundo desamparado. Esse jogo
acabou hoje. É falência pra todo mundo", afirma outro funcionário das
bancas ilegais.
Apostas esportivas são consideradas jogo de azar no Brasil, o que
impede que os sites sejam cadastrados no país. Muitas páginas,
entretanto, são registradas aqui, mas em nome de laranjas. Outros
empresários do setor optam por driblar a legislação por meio de
cambistas que usam tablets e maquininhas de impressão em pontos físicos e
de maneira ambulante, oferecendo as apostas em bares e de porta em
porta.
Os envolvidos em apostas ilegais podem ser indiciados por crimes como
lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, sonegação fiscal, evasão de
divisas e funcionamento de instituição financeira sem autorização do
Banco Central, em crimes contra a ordem econômica, tributária e contra
as relações de consumo.
SITES ADMITEM PREJUÍZO
Menos de 24 horas após o início da confusão, parte dos sites de
aposta "underground" começaram a admitir seus prejuízos e pedir
paciência aos jogadores. O site Marjosports, sediado no Brasil e
registrado em nome de "Jurema Vinte e Nove da Silva", publicou em sua
página inicial um pedido de desculpas. "Prezados, neste dia 12/07
tivemos a maior premiação de nossa história. Algo tão grande que não
pudemos prever e, por consequente (sic), não pudemos nos preparar
antecipadamente. Mas queremos deixar claro nosso compromisso com você
que sabe da nossa credibilidade, e que honraremos todos os nossos
compromissos, como sempre fizemos nestes anos que estamos juntos", diz o
texto.
Em texto semelhante, a banca Chuto Forte, cadastrado no sistema
nacional em nome de "Thiago de Luna Campos", afirma que entrará em
contato com os ganhadores "para o posterior agendamento das datas".
Outro site, intitulado BetGol777 e registrado fora do Brasil, afirma que
vai parcelar o pagamento dos créditos dos apostadores. "A Bet Gol 777
assume desde já o compromisso de honrar todos os débitos na condição de
parcelamento, iniciando com 10% (dez por cento) do valor do prêmio, com
programação de quitar todos os valores em dez vezes", afirma o
comunicado.
MERCADO VENDE ATÉ SISTEMAS DE COBRANÇA
A febre de apostas esportivas gerou todo um mercado clandestino. No
YouTube, por exemplo, programadores de tecnologia da informação que
vendem seus serviços para eventuais investidores no ramo ilegal. Em
anúncios às claras, os profissionais oferecem o sistema pronto de
impressão dos "pules", com códigos exclusivos de cada bilhete e sistema
de segurança para evitar falsificações.
POLÍCIA JÁ FECHOU SITES
Em abril deste ano, a Polícia Civil do Ceará (PC-CE) deflagrou a
Operação O Jogo Não Acabou, que fechou uma casa de apostas na cidade do
Crato. Na ocasião, os policiais prenderam um homem em flagrante por
contravenção penal e apreenderam materiais de apostas ligadas aos sites
"Bets 69", "Bets 99", "Bets Cariri" e "Bets Nordeste". Estes dois
últimos já não operam mais, mas as duas primeiras bancas, sediadas fora
do Brasil, continuam funcionando.
Na ocasião, a PC-CE informou que pediria ao Ministério Público Federal (MPF) a imediata retirada do ar dos sites de apostas.