BRASÍLIA — Parlamentares da oposição e da base
aliada pediram na noite desta quarta-feira renúncia do presidente Michel
Temer e a convocação de novas eleições. Aliado do governo, o líder do
DEM no Senado, Ronaldo Caiado, defendeu a renúncia do presidente e a
antecipação das eleições presidenciais. O posicionamento foi divulgado por meio
de nota enviada por sua assessoria.
“Diante da gravidade do quadro e com a
responsabilidade de não deixar o Brasil mergulhar no imponderável, só nos resta
a renúncia do presidente Michel Temer e a mudança na Constituição. É preciso
aprovar a antecipação das eleições presidencial e do Congresso Nacional”,
afirmou Caiado.
Para o líder do PPS, o deputado Arnaldo Jordy (PA),
também da base de Temer, o governo “acabou” e o ideal é fazer eleições
presidenciais neste ano e um pleito parlamentar no ano que vem.
— Acabou. Não tem nada que justifica essa denúncia.
Se Temer tiver grandeza, deve pactuar uma saída com instituições e antecipar o
processo eleitoral. Acabou. Está na hora de devolver para as urnas a decisão. E
não pode renunciar, porque os presidentes do Congresso também são investigados.
Logo após a divulgação das denúncias, a oposição se
reuniu e unificou o discurso em torno de um pedido de renúncia e de uma mudança
na Constituição que possibilite eleições diretas para a Presidência da
República ainda este ano. Dois pedidos de impeachment do presidente já foram
protocolados.
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Carlos
Zarattini (SP), afirmou que a oposição pretende mobilizar um ato no próximo dia
24 de maio em Brasília, pedindo a saída de Temer. Ele disse que os
parlamentares vão pressionar para que o presidente renuncie e que não voltarão
para seus estados e ficarão no Congresso discutindo os próximos passos.
– Nós fizemos reunião com líderes da oposição e nós
estamos concluindo algumas questões fundamentais. Primeiro, pedir a renúncia
imediata do presidente da República, que tomou o poder de forma golpista.
Segundo, vamos iniciar um processo de impeachment com base nesses fatos.
Terceiro lugar, nós queremos aprovar imediatamente o projeto de emenda
constitucional do deputado Miro Teixeira que prevê a convocação de eleições
diretas já – afirmou Zarattini.
Segundo o Blog do Moreno, em reunião com ministros
na noite de hoje, Temer disse que não renuncia e quer ver a fita da sua
conversa com o dono da JBS.
Em uma ação articulada para pressionar o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deputados da oposição pretendem votar amanhã,
na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara uma Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) apresentada pelo deputado Miro Teixeira que permitiria
antecipar as eleições presidenciais.
A PEC determina a realização de eleições diretas
até seis meses antes do final do mandato, caso a presidência fique vaga. Miro
acredita que há um dano de difícil recuperação para a autoridade do presidente.
A líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR),
classificou a situação de “gravíssima” e disse ver “provas concretas” do
envolvimento de Temer nas denúncias.
– É uma situação gravíssima. Essa denúncia contra o
presidente da República, no noticiário tem provas concretas do envolvimento
dele e de outros membros do governo que colocam a situação dele insustentável
no cargo. Ele tem que renunciar ao mandato e o Brasil precisa de convocação de
eleições diretas. Essa é a única maneira de pacificar o país e resolver o
problema que estamos vivendo – disse Gleisi.
A senadora afirmou que se trata de obstrução de
Justiça.
- Fachin manda afastar Aécio do mandato de senador e decide enviar ao plenário do STF pedido de prisão
– O que estamos vendo é claramente obstrução de
Justiça, com questões depois da Lava-Jato em andamento, de todas as denúncias
feitas, essa situação se coloca novamente. Precisamos ver as provas que têm e
tomar providência, o Supremo Tribunal Federal e a PGR têm que se manifestar –
pontuou.
A líder do PCdoB, Vanessa Grazziotin (AM), comparou
as denúncias contra Temer àquelas de que foi alvo o senador cassado Delcídio do
Amaral, preso por tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor
Ceveró. Para a senadora, não é possível manter a votação das reformas da
Previdência e trabalhista no Congresso.
– Diante da gravidade dos fatos, entendemos que é
impossível continuar com a pauta das reformas, mexe estruturalmente com país e
não há mais legitimidade desse governo. É muito grave o caso que envolve o
presidente. Há comparação com o senador Delcídio do Amaral, que foi preso por
questões até menores que essa. Vamos apresentar pedido de impeachment, mas
entendemos que é caso de renúncia imediata – pontuou Vanessa.
ENTENDA O CASO
O presidente Michel Temer foi gravado pelo dono da
JBS Joesley Batista, dando aval para o pagamento de propina ao deputado cassado
Eduardo Cunha em troca do silêncio dele. Diante de Joesley, Temer indicou o
deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F
(holding que controla a JBS). Posteriormente, Rocha Loures foi filmado
recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley.
Temer também ouviu do empresário que estava dando a
Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem
calados. Diante da informação, Temer incentivou: “Tem que manter isso, viu?”.
Aécio Neves também foi gravado pedindo R$ 2 milhões
a Joesley. O dinheiro foi entregue a um primo do presidente do PSDB, numa cena
devidamente filmada pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho dos reais.
Descobriu que eles foram depositados numa empresa do senador Zeze Perrella
(PSDB-MG).
Em negociação para fechar acordo de delação
premiada, Joesley relatou também que Guido Mantega era o seu contato com o PT.
Era com o ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff que o dinheiro de
propina era negociado para ser distribuído aos petistas e aliados. Mantega
também operava os interesses da JBS no BNDES.
Fonte: O globo.com