O episódio da inauguração do trecho duplicado da BR-135 pode ser apontado como um marco nesse confronto. Mesmo estando com mais de três anos de atraso, já tendo engolido gastos que se aproximam de R$ 1 bilhão, e ainda bem longe de ser concluída, merecendo mais puxões de orelha do que aplausos, a obra inaugurada trouxe a São Luís, além do ministro dos Transportes, Maurício Quintella, o poderoso e influente ministro Moreira Franco, chefe da Secretaria da Presidência da República, que dificilmente sai do Palácio do Planalto para atos dessa natureza. Sua vinda, acompanhado do ministro Sarney Filho (Meio Ambiente) e dos senadores João Alberto e Edison Lobão, ambos do PMDB, ganhou das vozes do Grupo Sarney um status muito além do merecido. Na sua coluna na edição de fim de semana em O Estado do Maranhão, o ex-presidente José Sarney alimenta a estratégia de falar mal do Governo Flávio Dino e conclui jogando confetes no Governo Federal para inauguração de uma obra que está longe de ser concluída.
Demonstrando ter ciência da estratégia, o governador Flávio Dino jogou com habilidade. Fez as vezes de anfitrião no ato de inauguração, manifestou satisfação com a obra, que classificou como “bela”, agradeceu ao ministro dos Transportes e ao presidente da República. Ao mesmo tempo, mostrou que, mais do que uma ação do Governo de Brasília, a duplicação da BR-135 no trecho que liga Estiva a Bacabeira, é resultado dos esforços, das cobranças e das pressões da atual bancada federal, destacando, sobretudo, a atuação dos seus coordenadores, sendo o primeiro deles o depurado federal Pedro Fernandes, a quem chamou para se apresentar na linha de frente do palanque como um dos “pais da criança”, fazendo em seguida com outros coordenadores – deputados federais André Fufuca (PP), Juscelino Rezende (DEM) e Rubens Jr. (PCdoB), aos quais pediu aplausos. A iniciativa do governador deixou sem ação ministros e senadores, que preferiram tentar reverter a situação de mal-estar que fechou o tempo no Campo de Perizes.
O Palácio dos Leões monitora, claro, a ação dos braços da máquina federal no Maranhão, como o DNIT, que cuida das BRs; da Codevasf, que pulveriza milhões com obras de médio e pequeno porte no estado inteiro; da Funasa, a megaestrutura que realizações na área de saúde; do Incra, que administra os o patrimônio e os conflitos agrários da União; do IPHAN, que investe da preservação do patrimônio histórico; e de dos filões bilionários Mina Casa, Minha Vida e Bolsa Famílias, entre muitos programas de peso criados pelo Governo Lula, e de convênios gordos firmados com a União e Prefeituras. Podem ser milhões e milhões injetados na base e que podem facilmente se transformar em argumentos para pedir votos. No contrapeso. O Governo do Estado mantém uma política de investimentos maciços em páreas como educação e saúde, chegando aos excluídos com o programa Escola Digna, a implantação da rede de hospitais regionais de médio e grande porte, obras de infraestrutura como rodovias e pontes e investimentos na melhoria da qualidade de vida urbana, assim como uma eficiente política de segurança pública, como o aumento do efetivo da PM, por exemplo. E com o diferencial de ser um Governo com elevado grau de transparência e sem a chaga dos desvios.
A corrida ao Palácio dos Leões será, portanto, um confronto que se dará nos dois planos, sendo que no político ela será turbinada por embates ásperos nos discursos, e no plano das máquinas administrativas um jogo pesado do “quem fez mais”.
BREVE HISTÓRICO DAS DISPUTAS...
Em Tempo: desde a restauração da eleição para Governador do Estado, em 1982, na campanha que colocou frente a frente Luiz Rocha (PDS) e Renato Archer (MDB), que as máquinas estadual e federal são fortemente usadas. Foi assim em 1986, tendo o candidato Epitácio Cafeteira fortemente apoiado pela máquina federal então sob o comando do presidente José Sarney – naquele ano, a máquina estadual fez corpo mole, já que o então governador Luiz Rocha não queria candidatura de Epitácio Cafeteira. Em 1990, a situação se inverteu, com a máquina federal, então comandada pelo presidente Fernando Collor, apoiou fortemente a candidatura do senador João Castelo (PRN), mas perdeu, porque a máquina estadual estava sob o comando do governador João Alberto (PMDB), elegendo Edison Lobão (PMDB). Em 1094, o presidente Itamar Franco deu uma forço na campanha de Roseana Sarney (MDB) ai Governo, mas o peso maior foi o da máquina estadual, então comandada pelo governador Edison Lobão. Roseana se reelegeu em 1998 no comando do Governo contra Epitácio Cafeteira (PTB), mas a máquina federal, então comandada por FHC,. Em 2002, José Reinaldo tavares (PMDB) se elegeu no Governo contra Jackson Lago (PDT), e usou todo o peso ma máquina estadual para eleger Jackson Lago em 2006. Em 2010, Roseana concorreu no Governo, elegendo-se no 1º turno contra Jackson Lago e Flávio Dino (PCdoB), e em 2014, a máquina estadual foi usada fortemente em favor de Lobão Filho (PMDB), mas não conseguiu bater Flávio Dino.
Fonte: Repórter Tempo